– Salve a Amazônia! Salve o Pantanal! Salve o planeta! Salve a natureza!
– Ô, carinha, em frente à sua casa há uma praça, e nela árvores que, de tão podres, caíram sob a última chuva que desabou aqui na cidade; e nem foi uma chuva forte. E a imundície que lá se vê é de matar todo filho de Deus. E você passa pela praça, todo santo dia, e não move um dedo para salvá-la. E reclama dos ratos e dos escorpiões e das baratas que adentram à sua casa! Queria o quê!?
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– Fim da desigualdade! Todos merecem receber salários iguais.
– Ô, carinha, o seu salário não é de se jogar fora, não; e você sabe que há muitas pessoas, inclusive familiares e parentes seus, que têm salário que não chega nem à quinta parte do que você recebe. Já pensei em distribuir suas riquezas com elas? E você tem meios de fazer isso. Ora, se tem. Mês passado você gastou uma nota preta numa viagem; e na semana passada, uma boa grana no show daquele músico, que, serei sincero, é uma taquara rachada. E nem falo daquela festança que, no ano passado, você deu na sua casa. De arromba.
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– Temos de saldar a dívida história com os negros. E um dos meios que temos à disposição é a políticas de cotas.
– Ô, carinha, na empresa em que você trabalha há quantos negros? Que eu saiba, dois. E há quantos funcionários? Cinquenta. Fazendo as contas… Parece-me que os negros não estão bem representados, não é mesmo?! Então, pague a sua dívida histórica. Vá até o seu chefe, e diga-lhe que você está pondo o seu cargo à disposição, em favor de um negro. E deixe que a minha dívida pagarei eu.
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– Há, no Brasil, milhões de pessoas passando fome. O governo tem de distribuir comida para elas.
– Ô, carinha, ontem, na praça, um pouco antes do Sol se pôr, você cruzou o caminho de um homem esfarrapado, andrajoso, fedido, piolhento, que lhe suplicou um pedaço de pão. E o que você fez? Não lhe deu confiança. Fez cara de nojo, e acelerou os passos, e o deixou falando com o poste. Coração de ouro o seu, hein!?