- – Você tem sangue judeu?
- Por que você me pergunta se tenho sangue judeu?
- – Os judeus, dizem, sempre respondem uma pergunta com outra pergunta.
- – E só o povo judeu faz isso?
- – Não sei. Mas dizem que os judeus nunca respondem uma pergunta com uma resposta. E você é tal qual os judeus, se a lenda é verdadeira. Sempre que alguém faz uma pergunta para você, você responde com outra pergunta, e não com uma resposta.
- – E ao perguntar, em resposta a uma pergunta que me fazem, não estou dando uma resposta?
- – Não. Você não responde à pergunta, mas faz outra pergunta, que obriga quem faz a você uma pergunta a dar uma resposta, e aí os papéis se invertem.
- – Você pode me dar um exemplo?
- – Posso. Claro que posso. Perguntei para você se você tem sangue judeu, e ao invés de me dizer se tem, ou não, sangue judeu, você me perguntou porque eu perguntara para você se você tem sangue judeu, e eu, então, em resposta à pergunta que você me fizera em vez de me responder à pergunta que eu havia feito a você, disse para você que dizem que os judeus sempre respondem uma pergunta com outra pergunta e não com uma resposta. E aqui estamos nós dois, eu respondendo às perguntas que você me faz. E você ainda não me disse se você tem sangue judeu.
- – E por que eu diria a você se tenho, ou não, sangue judeu?
- – E você não pode me dizer se você tem sangue judeu?
- – E por que você quer saber se eu tenho sangue judeu?
- – E há algum mal eu querer saber se você tem sangue judeu?
- – E por que haveria algum mal em querer saber se tenho sangue judeu?
- – E quem disse que há algum mal em querer saber se você tem sangue judeu?
- – E não foi isso que você insinuou?
- – Eu insinuei que há mal em querer saber se você tem sangue judeu?
- – E não insinuou, não?
- – Insinuei?
- – Se você não insinuou que há mal em querer saber de mim se tenho sangue judeu, por que você me perguntou se há mal em querer saber se tenho sangue judeu?
- – E eu tal pergunta fiz por que eu vejo que há mal em querer saber de você se você tem sangue judeu?
- – E não vê mal, não?
- – Vejo?
… e a conversa prossegue indenifidamente.